Análise de John MacArthur acerca de textos usados como
objeção para o ensino da Perseverança dos Santos.
1-
AQUELES VERSÍCULOS PROBLEMÁTICOS
Nenhum cristão pode negar que as promessas em Efésios, João
e Hebreus sobre a segurança de nossa salvação nas mãos de nosso Deus triúno,
são de fato inspiradoras. Talvez, no entanto, você esteja preocupado com outras
partes das Escrituras que parecem comprometer essas promessas. O que dizer da
afirmação de Paulo para a igreja gálata de que alguns caíram da graça? O que você
me diz de uma passagem menos animadora em Hebreus que fala daqueles que, uma
vez , iluminados, não podem ser reconduzidos ao arrependimento? E a afirmação
assustadora de Jesus em Joao 15 de que
aqueles que não permanecem nele são
jogados fora como ramos mortos, apanhados e queimados? E o que dizer da talvez,
mais assustadora de todas as afirmações de Jesus, em Mateus 12, em que ele diz
que existe esse tal pecado imperdoável? Examinemos cada passagem em seu
contexto , para reconhecermos o que ela está de fato dizendo, e como cada uma
se relaciona com a segurança da nossa salvação.
Galatas 5 e a questão de cair da graça.
Nosso texto começa: Foi para a liberdade que Cristo nos
libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo
de escravidão. Ouçam bem o que eu,Paulo,lhes digo: Caso se deixem circuncidar,
Cristo de nada lhes servirá. De novo declaro a todo homem que se deixa circuncidar, que está
obrigado a cumprir toda a lei. Voces,que procuram ser justificados pela Lei, separaram-se
de Cristo; caíram da graça. Pois é mediante o Espirito que nós aguardamos pela
fé a justiça, que é a nossa esperança.(1-5).
A quem se faz referencia e em que sentido eles caíram da
graça? Todas as pessoas a quem Paulo estava escrevendo, haviam professado Jesus
Cristo como Salvador e Senhor, do contrario, não teriam sido parte das igrejas
da Galácia. Muitos vinham de uma formação judaica, enfatizando o esforço
próprio , legalista , para agradar a Deus. Algumas não conseguiam desprezar
essa formação, ainda que, a principio, tivessem respondido positivamente a
mensagem de justificação do evangelho diante de Deus por meio da fé em Cristo e
só nele.
Alguns desses indivíduos conhecidos como judaizantes,
criaram problemas dentro de varias igrejas ao afirmarem que a fé em Jesus
Cristo , embora importante, não era suficiente para a completa salvação.
Ensinavam que o que Moises havia começado na antiga aliança e Cristo
acrescentado a nova , tinha de ser concluído e aperfeiçoado por esforços
pessoais(sendo a circuncisão o ponto central como símbolo de mérito
espiritual).
Paulo combateu essa idéia herege ao mostrar 4 de suas
trágicas conseqüências. Em Galatas 5 ele declara que, independentemente da
associação de alguém a igreja, se essa pessoa, por sua vida ou palavras,
rejeita a suficiência da Fe em Cristo, ela renuncia a obra de Cristo em seu
favor, coloca-se sob a obrigação de cumprir toda a lei mosaica, cair da graça
de Deus é excluir-se da justiça de Deus.
Nós , como cristãos, cremos que a salvação é pela graça por meio da fé.
Parece que os judaizantes a principio , reconheciam esse conceito, mas depois o
abandonaram ao enfatizar a lei mosaica como meio de salvação. É isso que
significa cair da graça. Tentar ser justificado pela lei e rejeitar o caminho da
graça.
Em Galatas 5:4, Paulo não estava se referindo a segurança do
cristão, mas aos caminhos contrastantes da graça e da lei , da fé e das obras,
como meio de salvação. Sem duvida, ele não estava ensinando que uma vez
justificada, a pessoa pode perder sua justa posição diante de Deus e voltar a
se perder por ser legalista. A Biblia nada diz sobre alguém se tornar não
justificado.
Aplicando-se a alguém que de fato era incrédulo o principio
de cair da graça fala sobre a pessoa que é exposta a graciosa verdade do
evangelho e depois dá as costas para Cristo. Tal pessoa é apostata.
Durante os tempos da igreja primitiva , muitos incrédulos –
tanto judeus quanto gentios – não somente ouviram o evangelho, mas também
testemunharam os sinais milagrosos realizados pelos apóstolos que confirmavam
esse evangelho. Muitas vezes eles não conseguiam deixar de ser atraídos a
Cristo nem de professar sua fé nele. Muitos se envolviam com a igreja local e
indiretamente vivenciavam as bênçãos cristãs do amor e da comunhão. Eram
expostos diretamente a toda verdade e bênçãos do evangelho da graça, mas depois
se afastaram. Segundo uma passagem que logo examinaremos, eles (foram
iluminados), (provaram o dom celestial ) e (tornaram-se participantes do
Espirito Santo) , ao testemunharem o ministério divino do Espirito na vida de
cristãos( Heb 6:4). Mas eles se negaram a confiar somente em Cristo, por isso
apostataram , perdendo toda a chance de arrependimento, consequentemente, da
salvação, uma vez que “não há salvação em nenhum outro , pois debaixo do céu
não há nenhum outro nome(...)pelo qual devamos ser salvos”.(At 4:12). Eles
chegaram a porta da graça e então apostataram voltando para a sua religião,
cujo foco estava nas obras.
HEBREUS 6 E AQUELES UMA VEZ ILUMINADOS.
É possível que pessoas vão a igreja durante anos, ouçam o
evangelho varias vezes e até sejam membros fiéis da igreja, mas nunca entreguem
suas vidas a Cristo. Encontramos tais pessoas em Hebreus 6. O escritor estava
especificamente falando ao povo judeu que era parecido com os gálatas
legalistas, mas a advertência aplica-se a qualquer pessoa.
É animador saber o que Deus pode fazer com um coração
arrependido. Mas saber o que ele fará com os pecadores que não se arrependerem
deveria deixar você de cabelos em pé. Sobretudo , foi dado o aviso mais severo
possível aqueles que conhecem a verdade da graça salvadora de Deus em Cristo Jesus – que talvez a tenham
visto transformar a vida de muitos de seus amigos e familiares, que podem até ter
feito uma profissão de fé nele - , mas que mudam de idéia e rejeitam aceita-la
plenamente. Ao persistirem em sua rejeição a Cristo, essas pessoas chegam ao
ponto em que não é mais possível voltar atrás em termos espirituais, em que
perdem para sempre a oportunidade de salvação. É isso que sempre acontece com o
individuo que é indeciso. No final, ele segue seu coração maligno da descrença
e dá as costas para sempre ao Deus vivo.
Ao contrario de uma faca, a verdade fica mais afiada à
medida que é usada, o que, no caso da
verdade, acontece por meio da aceitação e da obediência. Uma verdade que é
ouvida, mas não é aceita e seguida , torna-se desinteressante e sem sentido.
Quanto mais a negligenciamos, mais ficamos imunes a ela. Ao não aceitarem o
evangelho quando ele ainda é “novidade”, aqueles mencionados no livro de
Hebreus começaram a ficar indiferentes a ele e tornaram-se espiritualmente
indolentes, negligentes e duros. Por não usarem seu conhecimento do evangelho ,
eles agora, não podiam se convencer de tomar a decisão certa com relação a ele.
Na verdade, eles corriam o perigo de tomar uma decisão muito errada, de mudar
de atitude por causa da pressão e da perseguição , e de voltar totalmente para
o judaísmo.
Os indivíduos mencionados aqui tinham cinco grandes
vantagens por causa de sua associação com a igreja: eles foram iluminados,
provaram o dom celestial de Cristo , tornaram-se participantes do Espirito
Santo, experimentaram a Palavra de Deus e provaram os poderes milagrosos da era
que há de vir(Veja Heb 6:4,5). Não há referencia de espécie alguma à salvação.
Na realidade, nenhum termo usado aqui é usado
em referencia a salvação em outra passagem do Novo Testamento, e nenhum
deveria ser visto como referencia a ela nessa passagem.
A iluminação mencionada aqui tem a ver com a percepção
intelectual da verdade espiritual. Significa estar mentalmente consciente de
algo, instruído, informado. Não traz conotação de resposta – de aceitação ou
rejeição, crença ou descrença. Provar ou participar implica algo similar; uma
simples amostra da verdade. Ela não foi aceita nem vivida, somente examinada.
Esses indivíduos foram maravilhosamente abençoados pela
iluminação de Deus, pela associação com o Espirito Santo e pela amostra dos
dons celestiais , da Palavra e do poder de Deus. Entretanto , não creram. Daí
vem o terrível aviso de que, para aqueles que experimentaram tudo isso e
caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si
mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra
pública.(v.6).
Uma vez que acreditam
que esse aviso é para os cristãos,
alguns interpretes acham que Hebreus 6 ensina que é possível perder a salvação.
No entanto, se essa interpretação é verdadeira, a passagem também ensinaria
que, uma vez perdida, seria impossível recuperar a salvação – que a pessoa
estaria condenada para sempre. Não haveria ida nem volta, nem estar na graça ou
fora da graça, como parece imaginar a maioria das pessoas que acreditam que se
pode perder a salvação. Contudo , não é aos cristãos que se faz referencia , e o
que o individuo pode perder é a
oportunidade de receber a salvação, e não a salvação propriamente dita.
São os incrédulos que correm o risco de perder a salvação –
no sentido de perder a oportunidade de recebê-la. Uma vez que vêem e ouvem a
mensagem do evangelho, eles tem somente duas escolhas: seguir para o pleno
conhecimento de Deus por meio da fé em Cristo ou afastar-se dele e perder-se
para sempre. O caráter definitivo assustador desse perigo não deve ser
minimizado.
A vacinação imuniza ao dar uma amostra mais atenuada da
doença. Pessoas que são expostas ao evangelho podem receber o suficiente dele
para ficarem imunizadas contra o que realmente acontece. Quanto mais tempo
continuam a resistir ao evangelho, graciosa ou violentamente, mais elas ficam imunes
a ele. Seu sistema espiritual fica cada vez mais indiferente e insensível. Sua
única esperança é rejeitar tudo aquilo a que estão se agarrando e receber
Cristo sem demora – para não ficarem tão duras, muitas vezes sem percebe-lo, de
modo a perder sua oportunidade para sempre. Quando rejeitam a Cristo no auge de
sua experiência de conhecimento e convicção, as pessoas não o aceitarão em um nível inferior. Assim ,
a salvação torna-se impossível.
Nossa passagem em Hebreus termina com uma vivida ilustração:”A
terra , que absorve a chuva que cai frequentemente, e da colheita proveitosa
aqueles que a cultivam, recebe a bençao de Deus. Mas a terra que produz
espinhos e ervas daninhas é inútil e logo será amaldiçoada. Seu fim é ser
queimada”(VS.7-8). Todo aquele que ouve o evangelho é como a terra. Assim, como
a chuva, a mensagem do evangelho cai sobre quem a ouve. Depois que a semente do
evangelho é semeada, ela é alimentada e cresce. Parte da safra é boa e
produtiva, mas parte dela é falsa, espúria e improdutiva. Embora toda a safra
venha da mesma semente e seja alimentada pela mesma terra e pela mesma água,
parte dela se torna cheia de espinhos , destrutiva e sem valor, rejeita a vida
oferecida e so serve para ser queimada.
JOÃO 15 E OS RAMOS QUE SÃO QUEIMADOS.
Queimar a safra sem
valor é uma analogia evocativa usada frequentemente nas Escrituras para
descrever a apostasia(ou seja, a falsa crença). Encontramos essa analogia e
outras iguais a ela em muitas parábolas de Jesus(por exemplo: Mt
13:24-30,36-43; 18:23-35;22:1-14;Lc 3:1-9). A analogia utilizada por nosso
Senhor em João 15 tem perturbado muitos cristãos.
Na Palestina do século 1º, era comum impedir uma videira de
dar fruto por três anos depois de ela ter sido plantada. No quarto ano ela
estava forte o suficiente para dar fruto. Sua capacidade de dar fruto havia
sido intensificada pelo cuidado na poda. Ramos maduros, que chegavam ao fim do
processo de quatro anos, eram podados anualmente, de Dezembro a Janeiro, para
que continuassem a dar frutos.
Dar frutos é a essência da vida cristã. Em Efésios 2:10,
Paulo diz: “Somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas
obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”. Os frutos da
salvação são as boas obras. Tiago 2:17 explica que a fé, por si só, se não for
acompanhada de obra, será morta”. Se a fé salvadora estiver presente, ela não pode deixar de produzir fruto. As boas obras
não salvam uma pessoa, mas mostram que sua fé é genuína.
Em Joao 15, Jesus comparou seus seguidores a ramos que dão
frutos, mas que precisam ser podados de vez em quando. Não existe algo como
cristão sem frutos. Todos dão algum fruto. Talvez seja necessário dar uma boa
olhada para encontrar uma pequena uva, mas, se você olhar perto o suficiente,
encontrará algo.
Uma vez que todos os cristãos dão fruto, é claro que os
ramos infrutíferos de João 15 não podem se referir a eles. Na verdade , os
ramos infrutíferos tiveram de ser eliminados e lançados ao fogo. Contudo ,
Jesus referiu-se aos ramos infrutíferos como aqueles que estavam nele(VS .2).
Isso não implica que era necessário que eles tivessem sido genuínos?
Não necessariamente. É possível que , aparentemente, eles
estivessem ligados a videira , mas nenhuma vida fluía por meio deles. Outras
passagens nas Escrituras mostram que é possível ser um parasita na videira,
fazer aparentemente parte dela, mas somente na aparência. Em Romanos 9:6, por
exemplo, Paulo diz: “nem todos os descendentes de Israel são Israel”. Era
possível uma pessoa fazer parte da nação de Israel , mas não ser um verdadeiro
israelita. De igual modo, é possível ser um ramo sem viver ligado à videira
verdadeira. Uma metáfora similar em Romanos representa Israel como uma oliveira
da qual Deus removeu certos ramos(veja 11:17-24); Esses ramos foram cortados
por causa da incredulidade.
Alguns somente parecem fazer parte do povo de Deus. Em Lucas
8:18 , Jesus diz: “Considerem atentamente como vocês estão ouvindo. A quem
tiver, mais lhe será dado; de quem não tiver, até o que pensa que tem lhe será
tirado”. Levar uma vida de aparência que não condiz com a realidade é motivo
para que você seja removido do meio do povo de Deus. Um dia, o joio, ou as
ervas daninhas, será reparado do trigo com base nisso(veja Mt 13:30,38).
As Escrituras fazem uma severa advertência para que
examinemos nossa vida e tenhamos certeza de que nossa salvação é genuína. A
conseqüência é seria: Um ramo que não dá fruto é removido e queimado.
Para o cristão , no entanto, permanecer na verdadeira
videira oferece a forma mais profunda de segurança. Paulo diz: “Já não há
condenação para os que estão em Cristo Jesus”(Rm 8:1). Aqueles que estão nele
não podem ser removidos, não podem ser cortados e não precisam temer o
julgamento. Não se sugere aqui que aqueles que agora permanecem nele podem ,
mais tarde, deixar de faze-lo.
Por outro lado, aqueles que não permanecerem nele serão
julgados. Jesus disse:”Se alguém não permanecer em mim, será o ramo que é
jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados”(Jo
15:6). Uma vez que eles não tem uma relação viva com Jesus Cristo, são
rejeitados.
O verdadeiro cristão, em contrapartida, nunca pode ser
jogado fora. Como notamos anteriormente em Joao 6:37, Jesus disse: “Todo aquele
que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei”. João,
mais adiante, escreveu: “Eles saíram do nosso meio , mas na realidade não eram
dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de
terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos”(1 João 2:19). Se a pessoa
deixa de lado a comunhão com o povo de Deus e nunca mais volta, ela nunca foi,
para começar, um verdadeiro cristão.
William Pope foi membro da igreja metodista na Inglaterra
durante grande parte de sua vida. Ele fingiu conhecer a Cristo e serviu em
muitas funções. Nesse meio-tempo, sua esposa morreu como uma genuína cristã.
Logo , no entanto, ele começou a afastar-se de Cristo. Tinha
colegas que acreditavam na redenção de demônios. Começou a ir com eles a um
prostibulo. Com o tempo, tornou-se um alcoólatra.
Admirava o cético Thomas Paine e , aos domingos , ele e os
amigos se reuniam para confessar os pecados uns aos outros. Eles se divertiam
ao jogarem a Biblia no chão e chutarem-na de um lado para o outro.
No final , Pope contraiu tuberculose. Alguém o visitou e
falou-lhe do grande Redentor. Essa pessoa disse a Pope que ele poderia ser
poupado do castigo por seus pecados.
Mas Pope respondeu:”Não estou contrito; não posso me
arrepender. Deus me condenará! Sei que o dia da graça já se foi. Deus disse
para os que são como eu:”Vou rir-me da sua desgraça; zombarei quando o que
temem se abater sobre vocês .”. Eu o neguei; meu coração está endurecido”.
Então ele clamou:”Ah, o inferno, a dor que sinto! Escolhi o
meu caminho. Cometi o horrendo pecado que é condenável: crucifiquei de novo o
Filho de Deus; profanei o sangue da nova aliança! Ah, aquela terrível maldade
de blasfemar contra o Espírito Santo, que sei que cometi; não quero outra coisa
senão o inferno! Venha , oh Diabo , e leve-me”!
Ele passou a maior parte de sua vida na igreja, mas seu fim
foi infinitamente pior do que seu começo. Todo homem e mulher tem a mesma
escolha. Você pode permanecer na videira e receber todas a bênçãos de Deus ou
pode ser queimado.
Não parece ser uma escolha difícil, parece? Contudo, milhões
de pessoas resistem ao dom da salvação de Deus, preferindo o relacionamento
superficial do ramo falso.
Nós que permanecemos em Cristo devemos deixar que a
advertência das Escrituras motive-nos a dizer para tais pessoas :”Vejam , agora
é “o tempo favorável”, vejam, agora é “o dia da salvação”(2 Cor 6:2;cf. 49:8).
Mas não deixe a salvação que você declara ser menos do que ela é: uma salvação
gloriosa e segura, em total contraste com a condição instável do incrédulo que
se aventura nos limites da fé.
MATEUS 12 E O PECADO IMPERDOÁVEL.
Vamos mais longe com este tema com um estudo de caso real –
um homem que ouve o chamado da salvação e atende. Ele começa a ler livros
cristãos. Sua mente , irritável por natureza e academicamente indisciplinada,
começa a ficar terrivelmente confusa. Ele fica preocupado com circunstancias
religiosas externas, investindo um tempo considerável em atividades religiosas
e sentindo-se obrigado a abrir mão de toda atividade divertida, ainda que
inocente. Começa a buscar milagres para confirmar sua fé.
As coisas ficam ainda mais sombrias: ele agora está
convencido de que cometeu o pecado imperdoável mencionado por Jesus. Isso o
leva a invejar os animais na selva, as aves no céu, as pedras na rua e as
telhas do telhado, pois eles são incapazes de cometer a blasfêmia da qual sua
consciência tão severamente o acusa. Seu estado emocional destrói seu poder de assimilação. Sua dor é tanta que
ele chega a achar que irá estourar como Judas, a quem passou a considerar como
seu protótipo.
Finalmente as nuvens se desfazem. O homem que pensava estar
destinado ao mesmo fim que o do terrível traidor chega a desfrutar de paz e
certeza na misericórdia de Deus. Você pode ler a historia desse homem em sua
autobiografia,(Graça abundante ao principal dos pecadores). Seu nome é John
Bunyan, autor de “O Peregrino”, um dos livros mais populares de todos os
tempos.
Bunyan não é o único cristão a ter medo de cometer o pecado
imperdoável. Muitos cristãos sofrem este tormento. Parte da razão é que alguns
pastores e comentaristas respeitados sugerem que cristãos podem cometer o
pecado que Jesus tão assustadoramente mencionou, associando-o ao “pecado que
leva a morte”, mencionado em 1 João 5:16, e à negligencia dos iluminados que
acabamos de examinar em Hebreus 6:4-6.
Faço uma grande objeção a essa interpretação, pois ela
desconsidera o contexto da inquietante declaração de Jesus. A passagem é Mateus
12:22-31. Jesus cura um endemoninhado , mas, quando ouvem isso, os lideres
religiosos dizem:”É somente por Belzebu, o príncipe dos demônios , que ele
expulsa demônios’.(VS. 24). Belzebu, o senhor das moscas, era uma divindade dos
filisteus. Acreditava-se que ele era o príncipe dos espíritos malignos , e seu
nome tornou-se outro termo usado em referencia a Satanás. Aqueles lideres
religiosos cegos estavam afirmando que o
poder de Jesus provinha de Satanás.
Já fazia mais de dois anos que Jesus estava exercendo seu
ministério público. Durante esse tempo ele realizara numerosos milagres que
provaram para todos de Israel que ele era Deus. Mas a instituição religiosa ,
essencialmente, concluiu o contrário.
Jesus recebeu o poder do Espirito Santo em seu batismo(veja
Mt 3:16), momento no qual ele começou a provar quem realmente era. Ao mesmo
tempo, Jesus atribuiu seu poder ao Espírito de Deus. Como prenunciou Isaías , o
Espirito veio sobre Jesus e ele pregou e realizou milagres(Veja Isaías 61:1,2).
Contudo , os lideres religiosos afirmavam que o poder de Jesus era satânico.
Jesus foi seco em sua resposta a essa afirmação:”Se estou
expulsando Satanás mediante o uso do poder de Satanás, o que vocês acham que
Satanás está fazendo a si mesmo?”(Mt 12:26, paráfrase). É obvio que o Diabo
estaria destruindo seu próprio reino, o que não faria nem um pouco de sentido.
O ódio e o ciúme dos lideres religiosos levaram-nos a essa lógica distorcida.
Em vez de serem racionais, eles estavam sendo ridículos.
Assim, Jesus disse:”Todo pecado e blasfêmia serão perdoados
aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Todo
aquele que disser uma palavra contra o filho do homem será perdoado, mas quem
falar contra o Espirito Santo não será perdoado, nem nesta era nem na que há de
vir”.(v. 31,32).
Concluir que as obras milagrosas de Cristo – realizadas pelo
Espirito Santo para provar a divindade de Cristo – eram de fato feitas por
Satanás é estar em um estado irremediável de rejeição. Uma vez que os lideres
religiosos viram e ouviram tudo o que Jesus fez e disse, mas ainda estavam
convencidos de que as obras de Jesus eram satânicas, eles eram obviamente um
caso perdido diante de Deus. Concluíram o contrario do que era claramente
verdadeiro e agiram assim a despeito da plena revelação.
O que isso nos diz? Como pode ser aplicado hoje? Em primeiro
lugar,este foi um evento histórico singular que ocorreu quando Cristo estava
fisicamente na Terra. Uma vez que ele não está aqui agora, não há uma aplicação
primária. Talvez haja na “era que há de vir”(o reino milenar), quando Cristo
estiver novamente na Terra.
Há uma aplicação secundaria? Sim, a de que as pessoas
não-regeneradas podem ser perdoadas de qualquer pecado se estiverem dispostas a
se arrepender e vir a Cristo. Mas não pode ser perdoada a blasfêmia continua e
impenitente contra a obra convincente e condenatória do Espirito Santo,
definida como conhecer plenamente os fatos sobre Jesus mas,ainda assim,
atribuir suas obras ao Diabo.
De acordo com João 16 , o Espirito Santo aponta para Jesus
Cristo, convencendo o mundo do pecado , da justiça e do juízo(v. 7-11). Uma vez
que o agente regenerador da Trindade é o Espirito Santo, qualquer pessoa que é
salva, deve, no final, responder à sua
direção. Se a pessoa em vez disso, decidir rejeitar e desdenhar a obra
condenatória do Espirito, não há como ela se tornar um cristão.
Durante a 2ª Guerra Mundial, uma força norte-americana no
Atlantico Norte travou uma batalha violenta contra navios e submarinos inimigos
em uma noite excepcionalmente escura. Seis aviões decolaram de um porta aviões
à procura desses alvos, mas enquanto estavam no ar, foi ordenado um blecaute
total ao porta aviões com o intuito de protege-lo contra ataques. Sem luzes
acesas no deque do porta-aviões , os seis aviões não conseguiram pousar. Os
pilotos transmitiram um pedido pelo rádio para que as luzes ficassem acesas
o tempo necessário para chegarem ao
porta-aviões. Mas, uma vez que todo o porta-aviões com seus vários millhares de
homens, bem como com todos os outros aviões e equipamentos, estavam em perigo,
não se permitiu que nenhuma luz fosse acesa. Quando faltou combustível aos seis
aviões , eles se espatifaram na água gelada e toda a tripulação pereceu para
sempre.
Chegará um momento em que as luzes vão se apagar, quando a
outra oportunidade de ser salvo estará perdida para sempre. Aquele que rejeita
a plena luz pode não ter mais luz – e nenhum perdão. Que isso coloque medo no
coração de todos que agora rejeitam Jesus, mas não no daqueles que o aceitaram
como Salvador e Senhor.
·
Texto extraído do Livro “Salvo sem sombra de
Dúvida” de John MacArthur.
Nenhum comentário:
Postar um comentário