Trecho do Livro Protestantismo Tupiniquim de Gedeon Alencar.
Como estamos em ano eleitoral , convido a todos os lideres e liderados em nossas igrejas a meditar no que abaixo vou transcrever:
Pentecostalismo das massas e Comissão Política.
No século XX, obrigatoriamente, é necessário se pensar no pentecostalismo. Prática religiosa que nunca quis mudar o mundo mas sair dele.(...)
Segundo dados parciais do Censo 2000, a Igreja Assembleia de Deus tem oito milhões e cem mil membros, ou 31% dos vinte e seis milhões de evangélicos no Brasil. É a maior denominação protestante brasileira. Como igreja institucional , perde apenas para a Católica. Nascida em Belém do Pará, em 1911, a partir da dissidência em uma igreja Batista, foi fundada por dois imigrantes suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Em duas décadas alcançou o país, acompanhando o processo migratório norte-nordestino, causado , naquele momento, pela crise da borracha. Sem ligações estrangeiras , como as demais denominações protestantes, e , portanto, sem financiamento e estratégia de uma matriz, a Assembleia de Deus nasceu brasileira. Até porque em 1911, a Igreja Católica celebrava missas em latim, a Igreja Luterana e Adventista, cultos em Alemão, e a Igreja Anglicana e todas as demais denominações protestantes num "teologuês" anglo-saxônico. Até mesmo , a única igreja pentecostal da época, a Congregação Cristã do Brasil, celebrava seus cultos em italiano.
Periférica, simples e marginal, cresce entre pobres.Ela não opta pelos pobres. Ela é uma igreja de pobres.Portanto na marginalidade.Categorização que, pelo viés marxista, apenas comprovava a "alienação religiosa". No entanto, esta natureza de pobre e simples sempre foi vista internamente como "marca da escolha divina". Como disse o apóstolo Paulo:"Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;as cousas humildes e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são". Texto muito repetido pelos assembleianos, este discurso, para consumo interno, é por demais convincente e satisfatório. E, isto, ao longo dos anos, reforçou sobremaneira sua militância aguerrida. Sua síndrome de marginal.
"Quando o cabra vira crente, vira logo cidadão. Ergue a cabeça, até parece que tem estudo"! Esta é uma frase síntese, proferida por um agricultor, na pesquisa da antropóloga Regina Novaes, em que ela define a conversão de assembleianos cortadores de cana, no interior do Pernambuco, como " dignidade recomposta apesar da deterioração visível de suas condições de vida". Pena que os "escolhidos de Deus"(este é o título do seu livro) não transformem esta"dignidade recomposta" em modelo de vida para todos os assembleianos no país inteiro, mas é proposta de um grupo isolado.
Noventa anos depois, a Assembleia de Deus não é mais a mesma - ou pelo menos a liderança. Grande, poderosa, rica, "a maior do país', agora quer dar as cartas, principalmente na política. Mas ,chega com atraso e patinando muito. Criou uma comissão política , para orientar seus membros. Qual o poder e efeito que a Comissão Política da Assembleia de Deus e suas pretensas diretrizes tem para seus membros? O mesmo que um comunicado que a CNBB para os católicos, nenhum. É mero discurso. Uma tentativa canhestra de uma liderança que há muito tempo foi atropelada e ultrapassada pela dinâmica do grupo, mas ainda não percebeu. Ou não quer perceber. Insiste, porém, em (tentar) faturar politicamente. Na pesquisa realizada em 1994, pelo ISER no Rio de Janeiro, encontramos os seguintes percentuais entre os assembleianos: 37% votam em candidatos evangélicos,43% que tenham boas ideias políticas e 19% em quem traga melhorias.
A comissão política é uma proposta da CGADB - Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Convenção Geral, no papel, porque a Assembleia de Deus é um conglomerado de Ministérios(grupos de igrejas autônomas, e semi-autônomas) dispersos, diversos, e, em alguns lugares , divergentes. Qual o ponto comum que as Assembleias de Deus tem no Brasil ? O nome, apenas. A Assembleia de Deus é formada hoje por uma série de grupos díspares que não tem nenhum contato entre si. Há divergencias irreconciliáveis, lutas de poder viscerais. Note-se bem: Nunca houve uma dissidência na Assembleia de Deus no Brasil por alguma questão teológica ou similar. Todas as crises, lutas e divisões na Assembleia de Deus no Brasil , foram lutas de poder.
Pergunte a um católico quem é o presidente da CNBB. Pergunte a um assembleiano quem é o presidente da CGADB. E nem precisa ir ao interior do Amazonas, na periferia de São Paulo se encontrará um assembleiano militante, há anos servindo na igreja e que não sabe quem é o presidente da denominação e não tem conhecimento da Comissão Política. E mesmo que este membro quisesse,obedientemente, seguir suas diretrizes nunca tomaria conhecimento das mesmas. Elas são publicadas na Revista Obreiro e no jornal oficial Mensageiro da Paz. Este ultimo com uma tiragem de cem mil exemplares , para oito milhões de membros.
Qual a marca da Assembleia de Deus? Ela sempre foi uma igreja feita de gente que está proxima de gente, de povo que é povo para o proprio povo. É imigrante cuidando de imigrante, favelado cuidando de favelado, pobre falando para pobre. Expandiu-se sem dinheiro do exterior, por isso nunca acumulou patrimônio. Nasceu pobre e permaneceu assim durante décadas. Aliás, esta foi a natureza do pentecostalismo: coisa de pobre. Nascido entre negros(desnecessário dizer, pobres) foi perseguido pelas denominações tradicionais e Igreja Católica, muito mais por racismo( a mesma razão da perseguição aos cultos afros) do que por razões teológicas. Mas cresceu. Cresceu muito e alcançou outras classes."Todas as igrejas dos pobres cedou ou tarde se transformam em igrejas de classe média". A liderança assembleiana está sendo acuada pela atuação da Igreja Universal do Reino de Deus. E é esta "iurdinização" do neopentecostalismo que está dando a pauta. Principalmente, na política. Afinal, se a Igreja Catolica fez opção pelos pobres, os pobres fizeram opção pelo pentecostalismo. Já o neopentecostalismo fez opção pelos empresários.
A Assembleia de Deus, de forma prática, tem alguma contribuição à democracia brasileira - até porque, em sua origem, é congregacional? Nas ditaduras do Estado Novo e Militar, em 1964, não se pronunciou a favor ou contra. Isto acontece muito mais por sua natureza marginal do que por opção ideológica, mas , convenhamos, qualquer grupo calado numa ditadura é contado a favor. Esta igreja só acorda na Constituinte de 86, lutando em prol do nome de Deus no preâmbulo. Posteriormente, alguns de seus deputados se destacam na CPI dos Anões do Orçamento, como acusados e cassados. Em 2004, elegeu 22 deputados federais. Resta esperar.
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